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Projecto de Levantamento e Estudo da Arte Rupestre do Guadiana
(Maio - Agosto de 2001)

 

INTRODUÇÃO

Durante o passado dia 30 de Abril, pudemos observar os 3 núcleos de gravuras rupestres até agora identificados na margem direita do Guadiana, respectivamente os dois a montante, junto ao Moinho da Moinhola, e o terceiro, localizado cerca de 10 quilómetros para jusante, frente ao Moinho de Escobelo.

Em qualquer destes núcleos, que não constituem, para já, uma concentração de 12 quilómetros de gravuras, como tem sido apontado, mas tão só três núcleos com poucas dezenas de painéis, separados por c. de 10-12 quilómetros, o que não quer dizer que as futuras prospecções não possam identificar muitos mais painéis que provavelmente será o que acontecerá. Os suportes são afloramentos do manto xisto-grauváquico distribuídos pelas margens do rio, na sua maioria concentrados abaixo das cotas do leito de cheia, o que confere às gravuras uma acentuada pátina devido às frequentes lavagens pelas águas fluviais.

Todos os painéis observados apresentam representações gravadas de tipo esquemático-simbólico, com figuras isoladas ou agrupadas entre si, com uma morfologia e uma distribuição espacial muito idêntica às conhecidas gravuras da Arte do Vale do Tejo. Os tipos gravados, todos por picotagem, são, quer de carácter geométrico, com larga maioria de formas circulares e sub-circulares, quer figuras antropomórficas muito esquemáticas de tipo em T, duplo T, ancoriformes e ramiformes, quer ainda representações de animais, onde é possível identificar capríneos e cervídeos, também eles de tipo esquemático ou sub-esquemático.

A cronologia destas representações, de acordo com os paralelos da Arte do Tejo, mas também dos ciclos esquemáticos peninsulares, situar-se-á entre o Neolítico médio e a antiga Idade do Bronze. No entanto, tendo em atenção os levantamentos realizados na margem espanhola do Guadiana na zona de Cheles, onde foi identificada uma primeira fase com motivos filiformes enquadráveis no Paleolítico superior ou até no Epipaleolítico de acordo com a proposto por Hipólito Giraldo, será de prever que também na margem portuguesa possam entretanto ser identificadas gravuras destes períodos.

Sendo um complexo de gravuras pré-históricas de inegável importância científica, complementando e alargando o "Grupo do Vale do Tejo", infelizmente localizam-se muito abaixo das cotas máximas do regolfo do Alqueva, pelo que serão inevitavelmente submersas aquando do enchimento da albufeira.

No sentido de minimizar esta perda, para além do seu registo em desenho por decalque directo e fotografia, serão realizadas moldagens em latex de todas (ou das principais) superfícies historiadas.

O Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART), em colaboração com o Dr. Manuel Calado, da Universidade de Lisboa, propõe-se coordenar o trabalho de levantamento da arte rupestre até agora descoberta na área do regolfo do Alqueva, bem como a prospecção dos sítios que, de acordo com o estudo da cartografia, ofereçam potencialidades de poderem conter gravuras rupestres e que não tenham sido especificamente prospectados com esta finalidade.
Tendo em atenção o grande avanço das obras da barragem, com o seu encerramento previsto para finais do ano em curso, os trabalhos de campo desenrolar-se-ão entre os dias 14 de Maio e 31 de Agosto próximos.

METODOLOGIA:

Os trabalhos desta fase desdobrar-se-ão em várias etapas, que decorrerão em simultâneo, constituindo-se para isso equipas especializadas nas diversas tarefas respeitantes ao registo científico da arte rupestre.

Criar-se-ão então 6 equipas articuladas entre si e assim consideradas:

A) Prospecção e inventariação.
Os prospectores, para além de realizarem a prospecção sistemática das potenciais zonas com interesse para jusante e montante dos núcleos já detectados, efectuarão de imediato as fichas descritivas por painel (utilizando o modelo de ficha do CNART), que serão depois completadas durante as fases de desenho.

B) Limpeza das rochas.
Não se prevêem escavações, mas a limpeza de lamas e sedimentos e a remoção de líquenes justificam a criação de uma equipa especificamente vocacionada para estas tarefas.

C) Desenho.
Efectuar-se-á o registo em desenho integral de todas as superfícies historiadas, na escala 1:1, por decalque directo, com utilização dos diversos meios de visualização não destrutivos e que facilitem uma leitura objectiva dos motivos, suas técnicas e sobreposições (luz rasante artificial e bicromia com utilização de tintas de água contrastantes, especialmente adaptada a este tipo de superfícies grauváquicas). O desenho seguirá as normas estabelecidas pelo CNART para o registo da arte rupestre portuguesa.

D) Fotografia.
Todos os painéis e motivos serão fotografados à escala, quer em película, quer sob formato digital. O CNART fornecerá as câmaras fotográficas, apenas se necessitando de adquirir uma mais moderna câmara digital, uma vez que a que temos é um aparelho semi-profissional já muito ultrapassado.

E) Topografia
Uma equipa constituída por dois topógrafos efectuará a topografia das estações conhecidas ou a descobrir.

F) Moldagem
Tendo em vista uma restituição futura das superfícies gravadas, com fins didácticos ou de estudo, serão moldados todos os painéis gravados, caso as descobertas não alonguem muito o número de rochas historiadas até agora descobertas. Caso isso aconteça e apenas porque o tempo escasseia, serão seleccionados os painéis mais importantes para serem moldados. O material a utilizar será o latex, um produto barato, extremamente fiável arqueologicamente e de fácil utilização e conservação.

Os painéis já detectados em território português agrupam-se em 3 núcleos, os dois mais a montante junto ao Moinho da Moinhola e o de jusante ao Molino de Escobelo. Não se conhecem ainda topónimos específicos para cada estação. Aqui se concentram cerca de cinco dezenas de painéis, mas haverá seguramente muitos mais a descobrir, tendo em atenção os grandes depósitos de sedimentos que cobrem muitas superfícies grauváquicas, bem como as enormes áreas que estão por prospectar.

Para além do trabalho arqueológico propriamente dito e tendo em vista uma apresentação futura em museus, poder-se-ão também realizar restituições informáticas em 3 - D (a contratualizar com uma empresa especializada e fora do âmbito deste orçamento).

CONCLUSÕES

Prevê-se fazer o inventário e registo exaustivo de todos os vestígios gráficos rupestres detectados nas áreas a submergir pela barragem do Alqueva, sejam eles pré-históricos ou de períodos mais recentes.

Após a finalização dos trabalhos e num prazo máximo de seis meses, será produzido um relatório circunstanciado.

Caso as prospecções venham a detectar novos núcleos de gravuras rupestres com uma densidade de rochas que abrigue a alongar a campanha ou a um esforço de equipa, este factor será objecto de uma reformulação do projecto e de um novo orçamento a articular entre o IPA e a EDIA.


EQUIPA

Coordenação científica:
António Martinho do Carmo Baptista (CNART) e Manuel Calado (Universidade de Lisboa)

Colaboração de (22 elementos):
Alexandra Cerveira Pinto (CNART)
António Fernando Quintas Barbosa (CNART)
Rosa Jardim (CNART)
Carla Natividade Sousa Magalhães (PAVC)

+ 9 pessoas, algumas das quais ainda se aguarda a confirmação da sua aceitação ao nosso convite (Arqueólogos: Lara Beirão Amaral Bacelar, Carla Magro Dias, André Tomás, Ivone, Andrea Martins e Anabela: Assistentes de Arqueólogo Especialistas em Arte Rupestre: Manuel Fernandes Almeida, João Carlos Morgado Félix: Assistente de Arqueólogo: Áurea Santos).

+ 5 pessoas da equipa do Dr. Manuel Calado
+ 2 topógrafos
+ 2 assistentes de arqueólogo

TOTAL: 24 elementos

Duração dos trabalhos: 60 dias úteis



ORÇAMENTO

Prestação de Serviços pelo CNART, incluindo:

Estadia da equipa de cinco elementos do CNART e PAVC
Consumíveis
Trabalho de gabinete
Desgaste de materiais e equipamento 11 300 000$00

Fotografia (rolos e revelações), gerador, câmara digital
e acessórios, material de iluminação e diversos 2 500 000$00

GPS (GEOEXPLORER 3) 1 500 000$00

Materiais para moldagens em latex das superfícies gravadas 2 000 000$00

Transportes (aluguer de três viaturas todo o terreno),
seguros e gasolinas 4 500 000$00

TOTAL 21 800 000$00


Nota: Não orçamentamos os custos a assumir directamente pela EDIA:
salários dos restantes elementos da equipa não pertencentes ao CNART
publicação de uma monografia